Madre Feitosa, página gloriosa na história do Crato

Quando uma fiel seguidora de Cristo adoece com certa gravidade, os que lhe tem como guia na fé e inspiração na vida, vertem lágrimas, mas conservam, no coração, fagulhas de esperança. Foi assim com Madre Maria Carmelina Feitosa, ou apenas Madre Feitosa, como era conhecida a afável religiosa, Filha de Santa Teresa de Jesus e baluarte da educação caririense. Aos 98 anos, quase centenária, ela ainda viu o colégio que edificara, nos idos de 1969, o Pequeno Príncipe, chegar à data magna dos cinquenta anos. E cumpria o ritual de ir ao colégio, no centro do Crato, toda manhã, para coordená-lo e passear entre as crianças e os adolescentes, que lhes estendia a mão para receber a bênção.
Na última terça-feira, dia 17 de dezembro, no entanto, foi internada no Hospital Regional do Cariri, em Juazeiro do Norte, após sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) isquêmico. O quadro era estável, mas inspirava cuidados. No dia seguinte, a equipe médica deu conta de uma pneumonia, e o estado de saúde passou a ser grave. No dia 24, foi transferida para o Hospital da Unimed, na mesma cidade. Na manhã do dia 27, fez sua páscoa definitiva.
O funeral durou três dias, com celebração da Eucaristia a cada duas horas, intercalada com a recitação do Terço Mariano. Começou na Capela de Santa Teresa, na Casa-Mãe, sede do Governo-Geral da Congregação, em Crato. Continuou no auditório do Colégio Pequeno Príncipe, seguiu para a Sé Catedral de Nossa Senhora da Penha e findou na Capela da Casa de Caridade, onde a Madre vivia. E todo o translado feito a pé, com a urna carregada por aqueles que tiveram a graça de conviver com ela ou que foram beneficiados por sua afabilidade.


Ao som do hino do município, executado pela Banda de Música, a urna foi trazida, em cortejo, no carro do Corpo de Bombeiros. Quando foi aberta, estava a Madre de hábito branco, como no dia de sua consagração a Deus. Era vontade dela ser velada assim. E tão logo teve início, uma multiplicação de pessoas foi iniciada. Amigos, admiradores, familiares, religiosas, padres e autoridades civis prestaram as suas homenagens. Dentre elas, duas, particularmente, tocaram o coração de quem as assistia: a primeira, quando as co-Irmãs, envoltas ao corpo, entoaram “Amor Divino”, composto por Dom Quintino Rodrigues, primeiro bispo de Crato e fundador da Congregação, cantado sempre nas ocasiões mais singulares e solenes, como a Profissão Religiosa, o Jubileu de Vida Consagrada e a entrada na Morada Celeste. A segunda,  quando Dom Edimilson Neves, bispo de Tianguá, a quem Madre Feitosa tinha como “filho espiritual”, delicadamente retirou o solidéu da cabeça e o colocou junto ao corpo dela, cobrindo-o com o véu da urna.
O coração do povo do Crato estava apertado, sofrido. Mas aos que a morte, ora, entristecia, a profecia de Daniel consolava: “Aqueles que ensinam os homens, brilharão como as estrelas do Céu” (Cf. Dn 12, 3). “A vida de Madre Feitosa, portanto, é página gloriosa na história dessa cidade”, afirmou o bispo diocesano, Dom Gilberto Pastana.
Exéquias e sepultamento
Neste domingo, dia 29 de dezembro, a Igreja celebrou a liturgia da Sagrada Família de Nazaré. Na Catedral, a Santa Missa foi também oferecida por Madre Feitosa, elevando orações e fazendo sufrágios por ela, para que todos pudessem aproveitar os frutos da liturgia dominical. “A família cratense celebra, hoje, rendendo graças ao Pai do Céu pela vida, o testemunho e as virtudes da querida Madre. Os textos de hoje se ajustam ao exemplo de vida que nos foi legado por ela, referencial feminino e ícone na Diocese. Sua santa memória permanecerá viva no coração daqueles que aprenderam a amar”, disse Dom Gilberto, durante a homilia. E foi além: “No Colégio, orientou gerações pelas veredas da vida. Deve continuar referencial na Educação. A partir de hoje vai se chamar ‘Pequeno Príncipe, Unidade Madre Feitosa”.
O bispo emérito, Dom Fernando Panico, de Roma, enviou uma mensagem, na qual expressava sua profunda estima pela “Matriarca da Diocese de Crato”.
Para o governador do Ceará, Camilo Santana, presente à cerimônia, a religiosa “tinha um coração que cabia todo mundo” e que, por isso, as futuras gerações continuarão beneficiadas. “Impressionante a sua ternura, a transmissão de paz, de serenidade e de amor. Como cratense, muito me orgulho. Deixou-nos, na terra, mas cumpriu a sua missão de forma extraordinária. As futuras gerações vão ser beneficiadas pelo legado dela, por tudo que fez ao Ceará”.







Madre Vera Lúcia Alves de Andrade, superiora da Congregação, disse que a força da co-Irmã, sua fé, o seu amor à Palavra de Deus e o seu testemunho de “amor a toda prova” já estão eternizados no coração do povo.”Tinha um coração profundo, principalmente pelos pobres, os humildes, pelas pessoas idosas e pelas crianças. Será sempre a mulher de exemplo vivo. Seu corpo desaparece, mas o seu exemplo permanece”, considerou.
Trajetória
Nascida em Tauá, em 13 de setembro de 1921, Madre Feitosa chegou ao Crato aos 14 anos. Cursou o então ensino secundário e o curso normal no Colégio Santa Teresa de Jesus e dois anos depois, optou pela vida religiosa, ingressando na congregação de mesmo nome. Nela, iniciou também a prática do magistério.
Formada em Pedagogia, na antiga Faculdade de Filosofia do Crato, foi diretora do Colégio Santa Teresa, secretária geral da congregação e eleita vice-superiora geral em três mandatos consecutivos.
Em 1969, a convite de Dom Vicente Matos, terceiro bispo diocesano, fundou o Colégio Pequeno Príncipe. Os anos dedicados à Educação, rendeu-lhe inúmeras honrarias, dentre elas a medalha “Reitor Antônio Martins Filho”, em 2007, e o título “Doutor Honoris Causa”, em 2014. Ambos concedidos pela Universidade Regional do Cariri – Urca.
Até a sua partida, vivia na Casa de Caridade, criada pelo Padre Ibiapina, no século XIX, da qual também foi coordenadora e onde, agora, está sepultada.
Dom Edimilson Neves, que conviveu com Madre Feitosa durante 22 anos e a tem como segunda mãe, esteve, todo o tempo, particularmente emocionado.
Corpo de Madre Feitosa está sepultado à esquerda de quem entra à Capela da Casa de Caridade, onde ela vivia, nas imediações da Rádio Educadora do Cariri.
“Dela, eu guardo muitos ensinamentos. No campo da vida religiosa, que é importante ser fiel à Deus até o fim, e perseverar nos valores que o Evangelho nos aponta, sobretudo, o valor da caridade. E tratar bem as pessoas, ao seu próximo, uns aos outros. No campo da educação, sempre esteve à frente de seu tempo. Uma educação humanística, uma educação profundamente voltada para a pessoa, e não simplesmente por produção de números ou um saber estéril, mas uma formação integral. Ela viu o homem todo e todo homem. E o grande desafio que lançava para nós era sempre olhar cada aluno como se fosse o único aluno da escola, para tratar bem e fazer dele um cidadão. Os mais trabalhosos, ela dizia: ‘quando colocamos um para fora, Deus manda dois para converter a gente’. A ajuda aos pobres foi outro trabalho que me tocou profundamente e o zelo para com os necessitados. Eu escolhi para a Missa de corpo presente, que preside, o texto do julgamento final. ‘Estava com fome e me destes de comer, estava com sede e me destes de beber, eu era peregrino e você me acolheu’. Para mim, esse é o retrato da Madre. Um coração aberto que aprendeu com Ibiapina, na casa onde ele mesmo construiu, a ser um sinal da presença de Deus para os pobres na solidariedade. Ela deixa um legado importante, e tenho certeza que se perpetuará ao longo dos tempos, através de todos aqueles que receberam as sementes lançadas por ela em nosso coração”.
Por: Patrícia Mirelly e Mychelle Santos/Assessoria de Comunicação














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