A cada 10 doadores no Ceará, 7 fazem doação múltipla de órgãos, diz associação de transplantes


No Ceará, 845 pessoas doaram órgãos entre os anos de 2015 e 2018. Desse total, 603 tiveram vários órgãos transplantados a pacientes. O que equivale a 71,36% do total de doadores. Em 2019, de janeiro a setembro, foram registrados 116 doadores de múltiplos órgãos. Os dados são da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO).

A coordenadora da Central de Transplantes do Ceará, Eliana Barbosa, explica que os números poderiam ser ainda maiores, mas que a doação múltipla no Brasil tem critério restrito. “A retirada de órgãos aqui só pode ser realizada quando há o diagnóstico de morte encefálica. Em alguns países desenvolvidos, como Espanha e Estados Unidos, eles tiram órgãos de doadores em parada cardíaca. Aqui no Brasil, se o coração para e tudo é mantido artificialmente, mas não há morte encefálica, perdemos os órgãos”.


De acordo com Eliana Barbosa, a capacidade de contribuição de um paciente vítima de morte cerebral para salvar ou melhorar outras vidas pode ser ainda maior, mas requer estrutura. “Para retirada de alguns tecidos, precisamos de um banco de multitecidos. No Ceará, temos de córnea e de cordão umbilical – este queremos transformar em um de multitecidos, mas ainda é um projeto incipiente, está em discussão”, relata.

Uma só pessoa com morte encefálica – e cuja doação dos órgãos e tecidos é autorizada pela família – é capaz de beneficiar até 60 outras vivas, explica Eliana. “Órgãos para doar são dois rins, dois pulmões, um fígado, o pâncreas, o coração e o intestino. Mas quando entram tecidos, como válvulas cardíacas, pele, ossos e córneas, pode beneficiar um leque bem maior de receptores”, afirma.

Solidariedade
A professora aposentada Marilena Menezes, 53 anos, passou pela experiência de autorizar a doação múltipla de órgãos do marido Carlos Alberto da Silva, vítima de acidente de trânsito. Com morte cerebral atestada, foi possível doar seis órgãos a pacientes que necessitavam de transplantes.

“O pessoal do hospital me chamou e, naquele momento, eu disse que não permitia. Depois, liguei pra mãe dele e ela disse que poderia doar, porque, desse jeito, ele poderia ajudar tantas pessoas que estavam esperando na fila, e ela teria essa lembrança”, relembra


Foram doados, o coração, as córneas, os rins e o fígado de Carlos Alberto. Com isso, pelo menos, cinco pessoas ganharam uma nova oportunidade de viver. “Insisti pra descobrir quem eles eram e reuni todos na missa de um mês de morte."

A conscientização dos familiares no momento de perda, segundo coordenadora da Central de Transplantes do Ceará, Eliana Barbosa, é um dos principais desafios para aumentar as doações de órgãos no Estado. “Uma vez que a família é bem acolhida durante o internamento do ente querido e que os profissionais fizeram uma comunicação adequada, isso facilita, as famílias doam”, ressalta.

A solidariedade e as doações múltiplas contribuem para ampliar, ano a ano, uma estatística importante para a saúde no Estado: em 2009, foram concretizados 760 procedimentos no Ceará, número que avançou gradualmente até 2016, quando houve um pico de transplantes e foram realizadas 1.874 cirurgias deste tipo.

Em 2019, somente até 22 de novembro, de acordo com a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), já foram realizados 1.369 transplantes, sendo 805 de tecido ocular (786 de córnea e 19 de esclera), 240 de rim, 191 de fígado, 106 de medula óssea, 21 de coração, três de rim e pâncreas e mais três de pulmão.

Doações por ano
2015
Doadores efetivos: 208
Doadores múltiplos: 169

2016
Doadores efetivos: 222
Doadores múltiplos: 139

2017
Doadores efetivos: 209
Doadores múltiplos: 143

2018
Doadores efetivos: 206
Doadores múltiplos: 152

(Do G1 Ceará)

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