
Habemus Papam: o Vaticano anunciou que o novo papa foi eleito nesta quinta-feira, 8. A escolha foi feita pelos 133 cardeais reunidos na Capela Sistina, após votações secretas iniciadas na quarta-feira, 7.
Uma multidão de milhares de pessoas reunidas na praça de São Pedro, no Vaticano, rompeu em aplausos e vivas após a aparição da fumaça branca, anunciando a escolha do novo papa.
Os sinos da basílica de São Pedro dobraram pouco após a emissão da fumaça branca na chaminé instalada no telhado da Capela Sistina, às 18h08min locais (13h08min no horário de Brasília).
A morte do papa Francisco, aos 88 anos, deu início a uma série de rituais que culminaram na escolha de seu sucessor por meio do conclave, reunião dos cardeais eleitores no Vaticano.

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Quem é o novo papa?
Para conhecer a identidade do novo guia espiritual de 1,4 bilhão de católicos, será preciso aguardar o "Habemus Papam", o anúncio oficial feito no balcão da basílica de São Pedro e a aparição do 267º pontífice da Igreja Católica.
Nos próximos minutos, o protodiácono, o cardeal francês Dominique Mamberti, revelará seu nome com o anúncio "Habemus papam", antes que o novo pontífice conceda sua bênção "urbi et orbi" (À cidade e ao mundo).
O nome sob o qual ele reinará também será revelado.
Como foi a escolha
Os 133 cardeais, conhecidos como "príncipes da Igreja", precisaram de dois dias para escolher um sucessor de Francisco, que liderou a Igreja por 12 anos com um pontificado reformista focado nos pobres e migrantes.
O jesuíta argentino, que morreu em 21 de abril, aos 88 anos, foi alvo de críticas dos setores mais conservadores, que agora pressionam por uma mudança mais focada na doutrina.
O novo papa enfrentará inúmeros desafios internos, como a pedofilia na Igreja, a crise das vocações e o papel das mulheres, e externos, como conflitos, a ascensão de governos populistas e a crise climática.
Seu nome surge do maior e mais internacional conclave da história da Igreja, que reuniu 133 cardeais eleitores de cinco continentes e cerca de 70 países na Capela Sistina.
Embora os detalhes da eleição permaneçam em segredo, a menos que o novo papa decida pelo contrário, a única certeza é que ele obteve pelo menos dois terços dos votos para ser eleito.
Sala das Lágrimas
Após sua eleição, a tradição determina que o papa recém-eleito entre na Sala das Lágrimas, localizada nos fundos da Capela Sistina, para poder chorar pela magnitude da tarefa que tem pela frente.
Lá, ele veste sua primeira batina branca entre os três tamanhos disponíveis e, antes de ir à Loggia da Basílica para se apresentar, os cardeais lhe prometem obediência.
Nos próximos dias, ele passará por uma espécie de posse papal, com uma missa celebrada diante de líderes políticos e religiosos do mundo todo.
Ele também visitará a Praça de São Pedro no papamóvel pela primeira vez e fará uma homilia na qual anunciará suas prioridades.
Pastor ou diplomata
A eleição ocorre em meio a uma grande incerteza geopolítica, o que, segundo especialistas, foi uma questão fundamental na votação.
Francisco criou 80% dos cardeais que participaram do conclave, mas isso não é garantia de continuidade de seu pontificado.
A principal incerteza é se os cardeais escolheram um pastor ou um diplomata, um liberal ou um conservador, alguém formado na Cúria — o governo da Igreja — ou um desconhecido das periferias marginalizadas.
O decano do Colégio Cardinalício, Giovanni Battista Re, pediu em uma missa prévia ao conclave pela "manutenção da unidade da Igreja" diante do momento "difícil, complexo e turbulento" que o futuro pontífice enfrentará.
Conclave: o que acontece depois da eleição?
Quando um nome atinge a maioria necessária, o cardeal decano pergunta ao eleito se aceita a responsabilidade.
Ao responder positivamente, ele escolhe o nome pelo qual será conhecido, uma tradição que remonta ao século VI. Em seguida, ocorre a apresentação pública do novo pontífice com a famosa frase “Habemus Papam”, do balcão da Basílica de São Pedro.
O nome escolhido costuma homenagear santos ou pontífices anteriores, revelando intenções simbólicas para o novo pontificado.
Como funciona o conclave?
A eleição do papa acontece em sessões fechadas, chamadas de conclave, nas quais apenas cardeais com menos de 80 anos têm direito a voto. Durante o processo, os participantes ficam isolados e sem comunicação com o mundo externo.
Bloqueadores de sinal são instalados e, para manter a tradição, a comunicação visual sobre o andamento das votações é feita por meio da fumaça que sai da Capela Sistina: preta quando não há consenso, branca quando um novo papa é escolhido.
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Quem eram os principais cotados para ser o novo papa?
Um total de 133 cardeais com menos de 80 anos votaram na eleição do novo sumo pontífice. Há diplomatas, homens do campo, teólogos e mediadores.
Segundo a AFP, dezesseis se destacavam entre os "papabili", os papáveis.
Pietro Parolin (Itália), nº 2 do Vaticano, 70 anos
O experiente diplomata foi secretário de Estado — nº 2 do Vaticano — durante quase todo o pontificado de Francisco e é uma figura de destaque no cenário internacional.
Como membro do Conselho de Cardeais, desempenhou um papel fundamental na assinatura, em 2018, de um acordo histórico entre a Santa Sé e a China sobre a nomeação de bispos.
Luis Antonio Tagle (Filipinas), 67 anos
O ex-arcebispo de Manila é um figura moderada que não hesitou em criticar as falhas da Igreja católica, sobretudo em casos de pedofilia. Como Francisco, é um defensor dos pobres, migrantes e pessoas marginalizadas, a ponto de ser chamado de "Francisco asiático".
Este homem carismático de aparência jovial e sorriso fácil, apelidado de "Chito", foi criado cardeal por Bento XVI em 2012. Ele estava entre os "papáveis" no conclave de 2013.
Pierbattista Pizzaballa (Itália), patriarca latino de Jerusalém, 60 anos
Conhecedor do Oriente Médio, este franciscano e teólogo italiano fala hebraico e inglês e chegou em Jerusalém em 1999.
Em setembro de 2023, tornou-se o primeiro patriarca de Jerusalém em exercício — a principal autoridade católica do Oriente — a ser criado cardeal. Um mês depois, eclodiu a guerra entre o movimento islamista palestino Hamas e Israel. Seus repetidos apelos por paz o colocaram em destaque.
Matteo Maria Zuppi (Itália), arcebispo de Bolonha, 69 anos
Este discreto e experiente diplomata realiza missões de mediação política no exterior há mais de 30 anos. Membro da Comunidade Romana de Santo Egídio, braço diplomático não oficial da Santa Sé, foi mediador em Moçambique e enviado especial do papa Francisco para a paz na Ucrânia.
Com o rosto jovial e figura esguia, é muito popular na Itália por seu trabalho com os desfavorecidos. Além disso, defende o acolhimento de migrantes e a permanência dos fiéis homossexuais na Igreja.
Jean-Marc Aveline (França), arcebispo de Marselha, 66 anos
Aveline nasceu na Argélia em uma família de "pieds-noirs" — europeus, sobretudo franceses, que residiam na Argélia durante o período colonial — de origem andaluz e passou a maior parte da vida em Marselha.
Em 2013, tornou-se bispo auxiliar desta cidade portuária francesa, de onde defende o diálogo inter-religioso e os migrantes, dois pilares do pontificado de Francisco.
Eleito presidente da Conferência Episcopal Francesa no início de abril, ele foi o arquiteto da principal visita do papa sul-americano a Marselha em 2023.
Anders Arborelius (Suécia), bispo de Estocolmo, 75 anos
Este luterano sueco se converteu ao catolicismo em um país predominantemente protestante, mas também um dos mais seculares do mundo.
Primeiro bispo católico de nacionalidade sueca, foi criado cardeal por Francisco em 2017 e é membro de vários dicastérios.
Mario Grech (Malta), bispo de Gozo, 68 anos
O bispo de Gozo, a segunda maior ilha do arquipélago de Malta, desempenhou um papel fundamental durante o sínodo sobre o futuro da Igreja, convocado por Francisco.
Grech foi secretário-geral desta assembleia de bispos, que deliberou sobre temas cruciais, como o lugar das mulheres e os divorciados casarem-se novamente.
Péter Erdö (Hungria), arcebispo de Budapeste, 72 anos
Este rígido intelectual, que fala sete idiomas, é admirado por seus conhecimentos teológicos e sua abertura a outras religiões.
Fervoroso defensor do diálogo com os cristãos ortodoxos, também direciona atenção especial à comunidade judaica. Tem opiniões muito conservadoras sobre os casamentos de divorciados e casais homoafetivos.
José Tolentino de Mendonça (Portugal), 59 anos
Teólogo e poeta português, este prelado próximo ao mundo cultural é titular desde 2022 do dicastério (ministério) de Cultura e Educação do Vaticano.
O mais novo de uma família de cinco filhos, foi criado cardeal em 2019 pelo papa Francisco. Classificado entre os progressistas dentro da Igreja, suas posições sobre a acolhida dos homossexuais rendem a hostilidade de uma parte dos católicos conservadores.
Cristóbal López Romero (Espanha), arcebispo de Rabat, 72 anos
O cardeal espanhol, herdeiro espiritual de Francisco sobre os migrantes e o diálogo inter-religioso, é um símbolo das "periferias" admiradas pelo jesuíta argentino.
Nomeado arcebispo de Rabat em dezembro de 2017 por Francisco e criado cardeal em 2019, administra diariamente o diálogo com o islã em um país que tem uma comunidade católica minúscula.
Charles Maung Bo (Mianmar), arcebispo de Yangon, 76 anos
O presidente da Federação das Conferências Episcopais da Ásia foi nomeado cardeal em 2015, tornando-se o primeiro e único de Belarus.
O salesiano pediu diálogo e reconciliação em seu país, devastado por conflitos. Após o golpe de Estado militar em 2021, pediu aos manifestantes da oposição que não reproduzissem a violência.
Membro de uma minoria étnica, ele defendeu os rohingya, perseguidos de maioria muçulmana. Também se manifestou contra o tráfico de pessoas, que atrapalha a vida de muitos jovens em Belarus.
Malcolm Ranjith (Sri Lanka), arcebispo de Colombo, 77 anos
Este conhecedor das engrenagens da Igreja Católica é um poliglota superdotado, considerado um conservador próximo das posições do papa Bento XVI.
Nomeado núncio apostólico (embaixador) em 2004 por João Paulo II, foi criado cardeal em 2010 por Bento XVI. Ele não se pronunciou publicamente sobre os temas mais importantes da atualidade da Igreja, como as mulheres admitidas no papel de diácono ou a bênção dos casais.
Peter Turkson (Gana), 76 anos
Turkson, um dos cardeais africanos mais influentes, é frequentemente visto como o favorito para se tornar o primeiro papa negro da Igreja.
Nascido em uma família modesta de 10 filhos, fala seis idiomas e esteve no Fórum Econômico Mundial em Davos em várias ocasiões para alertar os líderes empresariais sobre os perigos da economia.
Fridolin Ambongo (República Democrática do Congo), 65 anos
O congolês Fridolin Ambongo, uma importante voz do movimento pacifista em seu país natal, marcado por décadas de violência, pode receber votos dos cardeais conservadores. Ele assinou uma carta em 2024 contra a autorização de Francisco à bênção de casais homoafetivos.
Arcebispo de Kinshasa desde 2018 e cardeal desde 2019, também é membro do "C9", o conselho de nove cardeais encarregado de aconselhar o papa sobre a reforma da Igreja. "A África é o futuro da Igreja, isso é óbvio", disse ele em uma entrevista em 2023.
Robert Sarah (Guiné), 79 anos
Figura de destaque entre os católicos tradicionalistas críticos de Francisco, este homem reservado é conhecido por suas posições muito conservadoras sobre imigração e homossexualidade.
Ele chamou de "heresia" o texto da Santa Sé que abriu o caminho, em 2023, para a bênção de casais homossexuais. Integrou o grupo de cinco cardeais conservadores que pediu publicamente ao papa Francisco para reafirmar a doutrina católica sobre os casais homossexuais e a ordenação de mulheres.
Robert Francis Prevost (Estados Unidos), 69 anos
Natural de Chicago, tornou-se prefeito do poderoso Dicastério para os Bispos, encarregado de nomear bispos em todo o mundo, em 2023.
Prevost foi missionário no Peru e, anos depois, foi nomeado arcebispo emérito de Chiclayo, no país andino. Ele também é o presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina.
O que causou a morte do papa Francisco?
> Década de 1950
Quando jovem, Jorge Mario Bergoglio sofre de pleurisia (inflamação da pleura) e tem parte de um dos pulmões removida.
> Julho de 2021
Papa é submetido a uma cirurgia no cólon para tratar diverticulite. Parte do intestino é retirada. Ele passa 10 dias internado no Hospital Gemelli, em Roma.
> Março de 2023
É internado com dificuldades respiratórias e diagnosticado com bronquite infecciosa. Recebe tratamento com antibióticos e tem rápida recuperação.
> Junho de 2023
Francisco volta a ser hospitalizado e passa nove dias internado após nova cirurgia abdominal, a segunda na região em dois anos.
> 14 de fevereiro de 2025
Papa é internado com um quadro de bronquite. Diagnóstico inicial evolui para uma infecção polimicrobiana, atingindo os dois pulmões e exigindo oxigenoterapia, transfusões de sangue e cuidados intensivos.
> 23 de março de 2025
Recebe alta após 38 dias de internação no Hospital Gemelli. Vaticano informa que a recuperação será lenta e com acompanhamento médico diário.
> Semana de 14 a 20 de abril de 2025
Papa reduz uso de oxigênio, realiza fisioterapia respiratória e de fala. Vaticano diz que ele apresenta leve melhora, mas ainda inspira cuidados.
> 20 de abril de 2025 (Domingo de Páscoa)
Faz aparição pública na Praça de São Pedro. Acena da varanda, pede que um assessor leia sua mensagem e circula brevemente no papamóvel.
> 21 de abril de 2025 – 2h35min (horário de Brasília)
Papa Francisco morre no Vaticano, aos 88 anos. Conforme o Vaticano, ele sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), também conhecido como derrame, seguido de um quadro de insuficiência cardíaca irreversível.
CONFIRA A REPORTAGEM | Francisco, o papa da simplicidade e da resistência
Com AFP
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