Carlos Matos não acredita no PSDB sem ‘virada radical’

 Opré-candidato à Prefeitura de Fortaleza pelo PSDB Carlos Matos ainda não tem a confirmação da legenda de que disputará o pleito deste ano – com o partido podendo ainda decidir apoiar Capitão Wagner (Pros) em vez de lançar nome próprio –, mas já trabalha com ideias a serem desenvolvidas à frente do Executivo municipal caso chegue ao Paço. Ele também conta perceber uma doença generalizada entre os partidos brasileiros, incluindo o PSDB, pontuando que não acredita na sua própria legenda “se não der uma virada radical”. O ex-deputado conversou com O Estado sobre esses e outros assuntos. Confira:


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O Estado: Há algumas semanas vimos a chegada das águas da transposição para o Ceará. Como você, que trabalhou próximo à questão da transposição do São Francisco no seu último mandato, avalia essa etapa? Chegou-se finalmente ao ponto onde deveria estar?
Carlos Matos. Foi um passo importante do São Francisco, nós temos que celebrar essa primeira vitória, mas ainda falta um passo muito importante, que é o principal eixo. Isso vai custar mais de R$ 2 bilhões, que evitaria o desperdício das transposições do São Francisco. Há um risco de se perder 50% da água do São Francisco no trajeto atual das águas, então esse canal precisa de apoio e é fundamental que esse desperdício não aconteça e nós possamos ter integralmente a transposição. Ainda sobre o assunto São Francisco, nos preocupam duas coisas: a gestão da própria transposição, pois é preciso que haja manutenção e cuidado, o custo é elevado por ano – cerca de 300 milhões –, o Estado do Ceará no momento é que mais precisa no Nordeste, então essas coisas precisam de fato ter um encaminhamento prático e eficiente para que a transposição venha cumprir o seu papel. E queria ressaltar que todos nós do Ceará e a população em geral estamos atualmente fechando um ciclo de oferta de água: não haverá mais nenhuma possibilidade, tirando essas fontes com essa magnitude de investimento, só iremos ter a água do mar para dessalinizar. temos Fortaleza desperdiçando mais de 40% da sua água, reduzir esse desperdício se impõe, essa água custa caro, então precisamos ver políticas públicas para esse assunto antes que a nossa cidade entre em colapso.
OE. Na última entrevista sua para O Estado você disse que o PSDB é um partido com morte anunciada a não ser que se tome uma medida grave e séria, fazendo referência a nomes envolvidos em corrupção. Hoje em dia novos casos surgem com nomes de peso do partido. Como o senhor avalia a situação do PSDB agora? Foi tomada essa medida grave e séria ou não?
CM. Todos os partidos do Brasil estão doentes e é preciso uma mudança radical do PSDB inclusive. O problema não é só a corrupção, as propostas já ficaram envelhecidas e é preciso modificar isso e construir uma nova história. Hoje não há nenhum dirigente do PSDB nacional envolvido diretamente em corrupção, mas isso não basta. Precisamos de uma refundação do partido. O desgaste foi grande, mas é um partido com grandes oportunidades, é possível construir uma nova história.

É fundamental que os partidos políticos de maneira geral não troquem só os nomes. A população precisa participar, renovando assim os partidos para que de fato eles não fiquem divorciados da realidade e da construção da cidade e do país que nós queremos. Atualmente eu não acredito em nenhum partido, inclusive no PSDB se ele não der uma virada radical em direção a uma aliança com a sociedade. É preciso reiniciar em novas bases, criar uma aliança não só na parte política em si, mas com a população.
OE: Com as movimentações recentes dentro do PSDB local entre lançar sua candidatura e apoiar a do Capitão Wagner, o que você considera que o partido tem a ganhar com uma candidatura própria? O que poderia ser feito diferente com uma chapa sua que não poderia com a do Wagner?
CM. O partido está mostrando vitalidade por ter ideais diferentes, mas precisamos amadurecer, pois o PDSB tem um débito com Fortaleza.

Devemos mudança para deixar a cidade menos violenta, com menos desigualdade social, onde as crianças de fato aprendam, onde de fato possamos ter um futuro mas harmonizado, não convivendo com duas Fortalezas. Queremos uma cidade mais desenvolvida, entretanto para tudo isso precisamos de um novo projeto e que o PSDB possa dar essa resposta – ou com uma candidatura própria ou com alianças, principalmente com aqueles que possam realmente ajudar o PSDB nessa direção. Creio eu que a melhor forma para defendermos as propostas para Fortaleza seja a candidatura própria, pois nós temos plenitude da autoridade para defendemos tudo que colocamos, na medida que fazemos alianças vamos ter que abrir mão de alguns projetos que acreditamos. No segundo turno sim, teremos alianças e é até normal isso acontecer, porém podemos apoiar ou podemos ganhar apoiadores e mostrar nossos projetos para garantir o melhor para Fortaleza. Pelo contrário, participamos de alianças que foram para segundo turno em 2016, então nós temos participado de projetos com muita vitalidade. A discussão é agora se vamos juntos com aliados ou se vamos isolados, mas o PSDB tem participado de uma forma bastante forte. Agora é um novo tempo, um novo cenário, há diferenças fundamentais entre a eleição passada e essa. Hoje existe uma busca de valorização dos partidos, não é possível mais fazer coligação entre os cargos proporcionais e isso faz uma diferença muito grande, pois precisamos, na prática, executar, e o PSDB tem experiência de governos e de formulação de políticas públicas que é um patrimônio que pode ser colocado a serviço de Fortaleza.

OE. Você fala que a atual administração prioriza as áreas nobres da cidade. De que modo você considera que a Prefeitura deveria mudar o foco para a periferia? Com que tipo de ação concreta?
CM. É preciso de uma nova governança a favor da periferia, pois as comunidades estão vulneráveis, no nível de convulsão social. Isso pode ser feito abrindo espaço para as novas lideranças fora do poder público. Existem milhares de jovens que não estudam e nem trabalham, isso equivale a 162 mil jovens, por isso que precisamos de uma política direcionada para eles. Esses auxílios emergenciais e alvarás, tudo isso não gera emprego e mostra uma falta de preocupação com os mais necessitados. É preciso que o poder público seja mais acessível para os pobres do que para os ricos. Nós estamos querendo fazer exatamente isso: escutar a sociedade, construir uma resposta nova. Quando percebemos que 40% da população vive em calamidade, entendemos que é preciso de um novo tempo, uma nova mudança.
OE. Você tinha um planejamento de uma série de ações este ano para ajudar a viabilizar uma candidatura e que acabaram sendo prejudicadas pela pandemia, não é isso? O que, por exemplo, você queria ter feito e não pôde e o que ainda conseguiu fazer?
CM. A pandemia prejudicou esse encontro olho no olho. Queríamos visitar a realidade da nossa gente, a escuta é sempre mais rica. Mas, de toda forma, estamos nos esforçando e continuando ouvindo vários segmentos da sociedade: jovens, pobres, mulheres, trabalhadores e empreendedores. Isso tem sido muito bom, mesmo com os desafios da covid-19. Ainda assim queremos continuar e melhorar cada vez mais os contato com a população.


o Estado ce 

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