
O Banco do Brasil reuniu três pesquisadoras acadêmicas e recursos de inteligência artificial para recriar as faces de três importantes mulheres negras da história do Brasil: Maria Felipa, Tereza de Benguela e Luiza Mahin. Elas eram representadas pela mesma imagem: a “Mulher Negra de Turbante”, mas a partir dessa iniciativa cada uma ganhou representatividade própria.
O projeto Faces Negras Importam além de resgatar a história dessas lideranças negras disponibiliza as imagens com os rostos de cada uma delas, com a narrativa de suas histórias. O projeto também estimulou entre os funcionários do banco em todo o país mostrar seus talentos, já que foram convidados a recriar a partir das imagens disponibilizadas releituras da face de cada uma. O Banco do Brasil em Iguatu não ficou de fora. O bancário Mácio Alves, que também é artista plástico e ativista cultural, teve seu trabalho entre os 30 selecionados que integram exposição que acontecerá em Brasília na sede nacional do Banco do Brasil, ainda este ano.
Mácio não imaginava estar entre os selecionados, mas se mostrou agradecido e surpreso. “O meu trabalho de releitura das faces de Luiza Mahim, Tereza de Benguela e Maria Felipa foi selecionado para uma mostra coletiva onde estarão presentes outros 30 trabalhos de colegas do Banco do Brasil. Para mim é motivo de muita felicidade, pois pela segunda vez tenho a oportunidade de mostrar algum trabalho artístico em exposições em Brasília”, contou, apresentando e explicando para nossa reportagem o trabalho que desenvolveu dentro da temática solicitada. “Ainda não sei se estarei entre os 10 primeiros, que garantirá uma viagem a Brasília para abertura da exposição, que acontecerá no hall de entrada do edifício sede. Mas, de qualquer forma, já estou bastante feliz por ter meu trabalho selecionado”, pontuou.
O trabalho
Mácio fez três telas com o busto de cada uma delas. As telas, medem 70cm x 70cm, foram confeccionadas utilizando técnica mista com pintura em óleo sobre tela ao fundo que abriga a releitura das imagens. Para a confecção das faces, ele utilizou tecnologia, com a geração e impressão em 3D das personagens. “Após a impressão das faces fiz a caracterização com a confecção de vestimentas semelhantes às das imagens 3D. Foram utilizados tecidos de algodãozinho em 90% do total das vestimentas, e Maria Felipa recebeu colares confeccionados com sementes, vértebras de peixes e pequenos búzios”, descreveu, ressaltando o cuidado com a confecção das molduras feitas em pinus de reflorestamento. Na lateral de cada quadro foi aplicado o nome em Braille referente à personagem retratada, em caixa alta para facilitar a leitura para crianças e QR Code que direciona para a página Faces Negras Importam, no site do Banco do Brasil.
O objetivo do projeto é dar visibilidade a essas mulheres e às suas histórias. Os nomes escolhidos foram Maria Felipa de Oliveira, que liderou um grupo de guerreiras negras e indígenas que lutaram pela liberdade e independência da Bahia; Tereza de Benguela, rainha quilombola do século 18 que manteve o quilombo e seu povo em segurança, trabalhando junto a um conselho para as tomadas de decisões por décadas; Luiza Mahin, quitandeira que distribuía mensagens por meio do seu tabuleiro de doces para ajudar na organização da Revolta dos Malês.

Pesquisadoras
Aline Najara da Silva Gonçalves – mulher negra, natural de Alagoinhas, Bahia. Doutora em História (UFRRJ), mestre em Estudos da Linguagem (UNEB) e especialista em História Afro-Brasileira (FAVIC). Autora dos livros “Luiza Mahin: Uma Rainha Africana no Brasil” (CEAP, 2011) e “Luiza Mahin: A Guerreira dos Malês” (CEAP, 2011) e da tese “É conter os negros: debates e narrativas sobre a questão do elemento servil no Império do Brasil, 1865-1908” (UFRRJ, 2022). Suas pesquisas estão centradas na história do processo de emancipação da mão de obra escravizada e do pós-abolição no Brasil. Atualmente desenvolve pesquisa de pós-doutorado no Centro de Estudos Latino-Americanos (CLAS) da Universidade de Pittsburgh (EUA), no âmbito do Consórcio Universitário de Estudos Afro-Latino-Americanos.
Rejane Mira – mestra em Desenvolvimento Regional, especialista em Metodologia do Ensino Superior e turismóloga. Realizou diversos trabalhos de consultoria em turismo e interpretação do patrimônio em destinos da Bahia. Foi professora na Faculdade de Turismo da Bahia, no Instituto Federal da Bahia e na Fundação Visconde de Cairu. Autora do livro “Turismo e Interpretação do Patrimônio: Uma abordagem comunitária”. Sócia da Cria Rumo Consultoria, consultora e instrutora do Sebrae nas áreas de turismo, cultura e economia criativa.

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