Mina de Itataia: Existe indígenas em Santa Quitéria? Conheça a história da aldeia Quixaba.

 


Movimento Potygatapuia - Foto: Reprodução/O Grito do Potyguara


Há pouco mais de um mês, após o ciclo de audiências públicas promovidas pelo IBAMA para discutir o Projeto Mina de Itataia, um dado apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) surpreendeu muitos quiterienses: a existência de uma aldeia indígena no município, que não teria sido mapeada no processo de licenciamento da exploração de urânio e fosfato.

A época, a Procuradoria da República em Sobral afirmou a existência da Aldeia Quixaba em território quiteriense, com base em distribuição de cestas básicas feita pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Segundo a fundação, a terra indígena não foi considerada no seu posicionamento enviado ao IBAMA por não ter processo de demarcação concluído, o que para a Procuradoria, este povo estaria invisibilizado.

Dentro da elaboração do EIA/RIMA – Estudo e Relatório de Impacto Ambiental, apresentado durante as audiências –, o Consórcio Santa Quitéria [INB e Galvani] informaram que a terra indígena mais próxima do empreendimento está a 136,58 km de distância, no caso, a Aldeia Pitaguary (Maracanaú).

Mapa na página 75 do RIMA Consórcio Santa Quitéria

A partir desta dúvida e desconhecimento de informações, A Voz de Santa Quitéria mergulhou num trabalho investigativo para tentar mapear esta comunidade e qual a relação da aldeia com a Terra do Urânio.

José Antônio, liderança da comunidade, que foi localizado pela reportagem, conta que o povo Quixaba está nos territórios de Monsenhor Tabosa e Santa Quitéria. Do lado de lá, é onde residem e usam os serviços públicos, recebem assistência, enquanto o pedaço quiteriense, que está desabitado, serve como área de caça, criação e plantação.

A localidade fica a 22 quilômetros de Itataia em linha reta e o acesso até a aldeia é feito somente por Monsenhor Tabosa. "O pessoal que morava dentro do município de Santa Quitéria saiu todo mundo, está todo mundo próximo da aldeia, estamos do lado de Monsenhor Tabosa, mas o limite é dentro de Santa Quitéria", conta José Antônio, tendo em vista uma delimitação da cultura indígena.

José Antônio e outros moradores da aldeia, em reunião com IBAMA antes das audiências

As 20 famílias que lá residem são advindas das gerações passadas que se criaram naquelas terras, e que se identificam com a etnia Potyguara.

Apesar do projeto de exploração se arrastar há quase cinco décadas, os conhecimentos sobre o urânio e fosfato da mina se deram apenas recentemente, segundo José Antônio, graças a técnicos da Fundação Osvaldo Cruz, que explanaram a temática. "A mina vai afetar muito a todos nós, a distância com a área que a gente planta, caça, cria. A poeira tóxica e o gás radônio chega a andar, com o vento a 16km/h, até 1000 km, o que as pesquisas dizem. Pode funcionar, mas a posição da aldeia é não, deixar o dragãozinho lá como tá", manifesta.

Na internet, são escassos os registros quando se busca por 'Aldeia Quixaba'. Em relação a reconhecimento pelo órgão indígena, o líder afirma que já constam cadastrados perante o órgão há oito anos e para reforçar isto, apostam agora na identificação de um sítio arqueológico naquela área, descoberto recentemente, que indicaria a existência dos nativos por ali há pelo menos 500 anos.

Indígenas em discussão no assentamento Morrinhos (Santa Quitéria), em abril deste ano - Foto: MAM

Durante as audiências em Santa Quitéria, Lagoa do Mato e Canindé, indígenas participaram junto da Articulação Anti-Nuclear Ceará, uma das vozes mais firmes contra o empreendimento, apresentando junto com pesquisadores que há grandes riscos para as comunidades do entorno.

 Procurada pela reportagem, a FUNAI informou por meio de nota que, “em consulta ao Sistema Indigenista de Informações (SII), não consta registro de reivindicação fundiária indígena, e não há registro de terra indígena em estudo referenciada no município de Santa Quitéria”.


A história indígena em Santa Quitéria
De acordo com o historiador Jardson Rodrigues, Santa Quitéria foi colonizada em meados de 1760 e desde então, há evidências claras que a nossa região já foi ocupada pelos nativos, diante dos registros principalmente na zona rural. “Como as chamadas pedras de letreiros que se encontram no Rio dos Macacos e também próximo ao Trapiá, sem mencionar que estes territórios sobre a Serra das Matas já foram povoados por nativos”, afirmou no Instagram @avozdesantaquiteria.

Em tempo
É a terceira vez em 18 anos que se busca a aprovação da licença ambiental para a abertura de Itataia.

                          A VOZ DE SANTA QUITÉRIA 

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