Eventos-Teste Serão Termômetro Para Decisão Sobre Réveillon No Ceará.

 


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Festival Jazz & Blues, nos dias 17 e 18 de setembro, foi o primeiro evento-teste do Ceará(foto: Aurélio Alves)


Mesmo com o avanço da vacinação e queda nos índices de casos e mortes por Covid-19, o Ceará ainda não definiu como serão feitas as comemorações de Réveillon no Estado. Os protocolos sanitários para as festas de fim de ano ainda estão sendo discutidos pelas autoridades de Saúde. Um dos parâmetros que será utilizado para o planejamento das festividades é o resultado de eventos-teste realizados no Estado desde setembro.

“Esses eventos-teste serão muito úteis para a gente entender o comportamento da Covid no estado do Ceará após a retomada de grandes eventos, de toda a economia e de toda a cadeia produtiva”, frisou Ricristhi Gonçalves, secretária executiva de Vigilância e Regulação da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), ao O POVO. Segundo ela, a partir desses eventos, é possível ter “elementos e evidências suficientes” para pensar em protocolos para o Réveillon.

 “Não vai ter aquela quantidade de público que a gente tá acostumado a ver, até porque a gente precisa de um distanciamento, garantir a segurança das pessoas, tentar minimamente garantir que as pessoas estejam imunizadas, para ter uma proteção individual e coletiva. Se nós tivermos tudo isso, a gente acredita que será possível, dentro dos protocolos que nós estamos discutindo no comitê científico”, afirma a secretária.

Os resultados do primeiro evento-teste, o Festival Jazz & Blues, realizado em Guaramiranga nos dias 17 e 18 de setembro, ainda não foram divulgados, mas a Secretaria da Saúde do município considera o piloto um sucesso. “Não tivemos nenhum resultado positivo para a Covid. Não temos os dados ainda condensados, mas o monitoramento está sendo feito”, relata Silvana Soares de Souza, chefe da pasta municipal.

Antes de comparecer ao local, os participantes precisaram apresentar cartão de vacinação com as duas doses do imunizante contra a Covid-19 e um teste negativo para a presença do coronavírus no organismo.

O Festival foi realizado em um ambiente ao ar livre, com público máximo de 400 pessoas, tendo capacidade de 200 a cada dia, e teve uso obrigatório de máscaras. A cidade também manteve barreiras sanitárias e só puderam entrar no município aqueles que comprovassem hospedagem e recebimento de duas doses da vacina caso tivessem mais de 18 anos.

Depois do evento, Silvana explica que o município, juntamente com os responsáveis pela produção do Festival, iniciaram o monitoramento do público que participou dos dois dias de shows. Após sete dias, questionários sobre sintomas foram enviados para aqueles que estavam presentes, incluindo moradores da cidade, visitantes e trabalhadores do espetáculo.

Quando passaram-se 14 dias do evento, outro questionário foi enviado e foi solicitado também que o público fizesse novamente testes de detecção da Covid-19. Apesar dos dados ainda estarem sendo compilados, Silvana adianta que não houve registro de pessoas com sintomas de gripe após o evento até agora.

“No olhar da saúde, no olhar sanitário, foi um sucesso. A gente conseguiu conter a questão de aglomeração até dentro da cidade. Com as barreiras sanitárias a gente conseguiu um público esperado que era aquele público vacinado. E o evento foi muito bem orquestrado, tendo todos os protocolos seguidos, era realmente tudo muito controlado”, diz Silvana.

Com relação ao Réveillon na cidade, Silvana explica que será necessário seguir protocolos estaduais e o cenário epidemiológico da cidade. A situação é semelhante em Fortaleza. Questionada pelo O POVO sobre a organização do Réveillon, a Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor) afirmou que “ainda não há definição sobre a realização presencial do Réveillon 2022”.

Tanto a pasta da Cultura quanto a Secretaria do Turismo de Fortaleza (Setfor) informaram em notas oficiais que a Prefeitura ainda acompanha o cenário epidemiológico da pandemia na Capital e estuda as possibilidades da festa.

No início de setembro, o secretário municipal de cultura, Elpídio Nogueira, afirmou em entrevista à rádio O POVO CBN que entregou ao prefeito José Sarto um planejamento para a festa. No mesmo mês, um balanço do Ministério do Turismo incluiu Fortaleza na lista de cidades que planejavam atividades para a virada. O prefeito da Capital também já mencionou que possíveis protocolos para a festa incluiriam a exigência de um passaporte de vacina e monitoramento de casos após o evento.


Um evento-teste de sucesso é aquele em que todos os protocolos são seguidos e que, 14 dias depois, ninguém testou positivo para a Covid-19. É o que diz a coordenadora da Vigilância Sanitária do Estado, Dolores Fernandes. Esses protocolos vigentes, elaborados pela Secretaria Executiva de Vigilância e Regulação em Saúde (Sevir), dão conta de como cada tipo de evento deve ser organizado, monitorado e fiscalizado.

“A finalidade dos eventos-teste é exatamente fazer um evento controlado para avaliar esse impacto na transmissão da doença. E é esse impacto que vai apontar possibilidades ou não de flexibilizar cada vez mais os eventos, o número de pessoas por evento, essas coisas”, diz Dolores.

Além do Festival Jazz & Blues, dois jogos de futebol com presença de torcida no estádio foram liberados como eventos-teste. De quarta-feira, 6, até esta sexta-feira, 8, um evento corporativo reuniu ao todo oito mil pessoas no Centro de Eventos, recebendo participantes de diversos estados. Em outubro, quatro eventos-teste são programados na Rede Cuca, em Fortaleza.


Apesar de os protocolos serem planejados e fiscalizados pelo Estado, quem deve monitorar a saúde dos participantes antes e depois do evento são os organizadores. As secretarias municipais de saúde também devem ser notificadas sobre os testes e sintomas do público.

De acordo com Circe Jane Teles, presidente do Sindicato das Empresas Organizadoras de Eventos e Afins (Sindieventos), o monitoramento está sendo feito por diversos modos de comunicação com os participantes, como e-mail, Whatsapp e telefone. As equipes de organização dos eventos estão delegando funcionários para checar testes, acompanhar sintomas e outras exigências.

A gente tem certeza de que fomos o setor mais prejudicado e, apesar de fazer esse serviço ainda maior, de ter um protocolo muito rigoroso para eventos, pelo menos tem a tranquilidade de que está fazendo o melhor”, diz Circe. Para ela, o monitoramento é um “ônus a mais” para o setor de eventos, mas ainda acredita que seja necessário.

“Outras atividades produtivas não têm essa exigência e aglomeram muito mais, mas a gente colabora porque pactuou esse tipo de serviço com as autoridades sanitárias para que haja evento”, afirma. Circe tem a expectativa de que os protocolos fiquem menos rígidos com o passar do tempo e com o aumento da cobertura vacinal da população.

Como garantir segurança nas festas de Réveillon?

Ainda com uma alta circulação de coronavírus, é difícil garantir a total segurança de um evento. Pessoas vacinadas ainda podem ser infectadas e passar o vírus adiante. No entanto, as máscaras protegem bastante contra a transmissão. Mas mesmo assim, locais fechados e aglomerados podem ter alto risco para mais infecções. Então como garantir a segurança em grandes festas, como o Réveillon de Fortaleza?

Para o infectologista Keny Colares, a soma de medidas de segurança aumenta a proteção. Se a pessoa está em um ambiente ventilado, utilizando máscara, imunizada contra a Covid-19, mantendo distanciamento de outras e foi testada recentemente, as chances de pegar o vírus são muito menores do que se apenas uma dessas medidas fossem adotadas.

“Esses protocolos de segurança trabalham com medidas que não são 100% protetoras. Só que se você soma uma, duas ou três medidas que não são protetoras 100%, você aumenta a proteção. Da mesma forma que no carro a gente utiliza o cinto de segurança e o airbag, nenhum deles é 100% seguro”, explica o médico.

As variações de cenários promovidos nos diferentes eventos-teste podem ajudar as autoridades sanitárias a entender qual será o melhor tipo de combinação de medidas protetoras a ser seguida em outras grandes reuniões, como o Réveillon. “O número de pessoas juntas, a proteção que usam e o ambiente é que podem criar situações que tenham risco muito baixo, alto e intermediário. A gente não conhece todos esses cenários ainda”.

Assim como Keny Colares, a infectologista Melissa Medeiros acredita que os eventos-teste são positivos. No entanto, para ela o fim do ano ainda não é momento para fazer grandes festas de Réveillon. “Acho extremamente arriscado, eventos grandes de confraternização ainda não devem ocorrer”, opina.

Melissa teme que as infecções voltem a subir depois das festas do fim do ano, como aconteceu de 2020 para 2021. Mesmo com o decreto proibindo festas particulares e a reunião de mais de 15 pessoas dentro das casas, aglomerações ainda foram registradas no fim do ano. No início de 2021, os casos voltaram a subir e a segunda onda atingiu o Ceará, que precisou passar por novo período de lockdown.

Apesar de não ter eventos programados de forma oficial pelo Estado ou pelas prefeituras das cidades, festas privadas já são marcadas e ingressos são vendidos em diversas cidades do Ceará, principalmente aquelas litorâneas, que são as mais procuradas para a ocasião.

No momento em que o Estado procura evitar a terceira onda e a transmissão desenfreada de variantes do vírus, a infectologista defende que as comemorações ainda sejam feitas com poucas pessoas, utilizando máscara, em ambientes abertos e evitando beijos e abraços. (Colaborou Ana Rute Ramires)


                          o Povo 

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