Manchas de petróleo voltam para praias cearenses e preocupam pesquisadores

Principalmente nos meses de setembro e novembro, peixes e tartarugas foram encontrados mortos nas praias em decorrência do petróleo.
Principalmente nos meses de setembro e novembro, peixes e tartarugas foram encontrados mortos nas praias em decorrência do petróleo. (Foto: AURELIO ALVES)
O ano de 2020 chegou, mas os problemas de 2019 persistem. Na última segunda, 30 de dezembro, o petróleo voltou ao litoral oeste do Ceará, nos municípios de Itapipoca e Amontada. A ressaca do mar, comum nesta época do ano, pode ter influenciado o retorno do óleo.

De acordo com Rivelino Cavalcante, professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC), é provável que o petróleo esteja sedimentado no fundo da plataforma continental cearense, onde há alta concentração de carbonato - em especial no Litoral Oeste. Por isso, o petróleo não se dispersa e mantém manchas volumosas.
Mas as consequências do retorno do petróleo vão além da poluição das praias. Segundo o doutor em Oceanografia Luis Ernesto Bezerra, também professor do Labomar/UFC, espécies de crustáceos, moluscos, esponjas, equinodermos (estrelas-do-mar, ouriços-do-mar etc) e até algas marinhas dependem do assoalho marinho para sobreviver.
As ameaças do petróleo para essas espécies são muitas: elas podem morrer tanto sufocadas, ao serem impedidas de realizar trocas gasosas e de se locomoverem, quanto por contaminação química, interferindo em processos celulares e reprodutivos.

“De imediato, o problema que vejo é que o óleo, caso esteja no fundo, pode afetar toda uma gama de organismos que vivem sobre o solo marinho e são a base do funcionamento de todo o ecossistema marinho”, afirma Luis. As espécies são alimento de peixes, tartarugas e tubarões.
O comércio também pode sofrer com a contaminação: “Como tudo está interligado, pode afetar as espécies de valor comercial diretamente, caso elas se contaminem, quanto indiretamente, já que os organismos são fonte de alimento”, conclui o pesquisador.
Se as suspeitas dos pesquisadores forem confirmadas, o Estado deve enfrentar dificuldade na retirada das manchas de petróleo do fundo do oceano. “Não é uma coisa fácil, ninguém sabe onde [o petróleo] está e a plataforma continental cearense é consideravelmente larga”, explica Rivelino.

Além disso, o professor afirma que seria necessário um estudo de caso de como realizar a limpeza do solo oceânico cearense em virtude da singularidade da plataforma. “Mesmo baseados em outros acidentes do tipo, o nosso ambiente é praticamente novo quanto a isso”, conclui.

A Marinha do Brasil (MB) está responsável pela limpeza das praias recém-afetadas pelo retorno dos resíduos no Ceará. Em nota, o Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA) - composto pela MB, pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) - informa o envio de amostras do material para análise no Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM).


As primeiras manchas de óleo no Nordeste foram registradas no dia 2 de setembro de 2019. Confira algumas das matérias produzidas pelo O POVO e relembre o efeito do petróleo no Nordeste e no Ceará:


o Povo 

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