Polêmicas protagonizadas por Bolsonaro devem se refletir na atuação parlamentar. Centrão e governistas, contudo, tentarão blindar pauta econômica Câmara dos Deputados
É em cenário de turbulências e com previsão de debates acirrados que Câmara dos Deputados e Senado retornam hoje às atividades em Brasília, após 15 dias de recesso. Enquanto puderam descansar ou dedicar-se a compromissos particulares, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) administrou agenda interna e externa.
Em meio aos entreveros que se acumulam, o segundo turno da reforma da Previdência, com votação prevista para o próximo dia 7, e a reforma do sistema tributário são debates que devem ganhar destaque na segunda metade do ano.
Ex-presidente da Comissão Especial de reforma da Previdência — fase já superada pelo texto —, o deputado Marcelo Ramos (PL-AM) diz ao O POVO que a pauta econômica tem de ser blindada independente de arroubos vindos do Planalto.
"Um clima ruim é tudo o que o presidente não precisa diante da urgente necessidade de votação da reforma da Previdência em segundo turno", avalia. Ele entende que a discussão de "questões periféricas" pauta a oposição e atrasa discussões.
Sobre a reforma tributária, Ramos projeta mais dificuldade do que o que se prevê. Conforme aponta, governadores têm interesses distintos entre si e o Governo Federal tem uma concepção própria, diferente da do Senado, que aprovará uma proposta e a Câmara, por sua vez, promoverá alterações.
Mesmo tendo votado em Bolsonaro no segundo turno, o deputado federal Vinicius Poit (Novo-SP) reprova a declaração endereçada a Santa Cruz. "Não faz sentido nenhum, não tem cabimento." Assim como Ramos, contudo, entende que é necessário proteger temas econômicos. Quando a reforma previdenciária passar, aposta o paulista, Bolsonaro verá um "endurecimento" do Congresso.
Discorda o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE). Ele entende que a temperatura deve esquentar já no retorno de hoje. Projeta, inclusive, que "vai ter gente propondo o impeachment (de Bolsonaro)."
A respeito da reforma tributária, Costa adianta que tudo corre para que a bancada do PT apresente texto alternativo a todos os que estão postos. Para o segundo turno da reforma previdenciária, ele confessa acreditar que a Câmara é o ambiente propício a alterações da oposição, o que não deve ocorrer no Senado.
Provável relator da proposta no Senado, Tasso Jereissati (PSDB-CE) quer emplacar pelo menos uma mudança: a reinclusão de estados e municípios no texto. Eduardo Girão (Podemos-CE) diz ser solidário à ideia, embora diga que ainda tomará posição a partir do relatório do tucano.
Bolsonarista cearense, o deputado Heitor Freire (PSL) acrescenta às duas reformas a aprovação da Medida Provisória 881, da "liberdade econômica", que versa sobre privatizações. A proposta perde validade no próximo dia 28.
"Nosso papel será evitar que as propostas sejam desidratadas pela oposição e em favor da economia de R$ 1 trilhão, sendo R$ 900 bilhões do texto já aprovado (Previdência) e mais R$ 200 bilhões, levando em consideração a MP Antifraude", ressalta.
Líder do PDT na Câmara, André Figueiredo (CE) diz que a legenda tentará convencer os oito parlamentares que votaram pelas novas regras previdenciárias a mudar posicionamento no segundo turno. Para a reforma tributária, Figueiredo diz que a bancada seguirá reivindicação dos governadores de repartição de receitas. "Também vamos ter enfrentamento no que diz respeito a tributação do rentismo."
Ele interpreta o comportamento de Bolsonaro como inadmissível. "Nós vamos querer ir para embate muito pesado, porque a cada dia é uma pauta negativa que ele coloca na imprensa."
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