O líder do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) no Congresso Nacional, senador Eduardo Gomes (PL-TO), fez pedidos de depósitos bancários a um empresário em troca de "ajudar a adiar" uma portaria do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). Os diálogos do parlamentar foram encontrados pela PF no celular de um amigo, o empresário Jorge Rodrigues Alves, alvo da Operação Lavanderia e que atua nos setores de construção civil e iluminação.
“Há, por fim, diversas conversas entre Jorge e o senador Eduardo Gomes, indicando que Jorge aparentemente paga contas para o senador e lhe envia dinheiro, assim como lhe pede favores e intercessão em assuntos de suas empresas”, diz um trecho do documento, com pedido para que o caso vá para o Supremo por questões de foro privilegiado do senador.
Os depósitos, segundo o documento, ocorrem desde 2016 em contas ligadas ao senador e somam cerca de R$ 760 mil. Em uma delas, o parlamentar questiona ao empresário se ele “acha que consegue 20?” ao indicar os dados bancários do seu assessor João Bosco Pinto da Silva.
Em outra conversa do mesmo ano, é possível ver uma espécie de prestação de contas de Alves para Gomes. O senador pergunta o que já foi feito e o empresário responde com comprovantes de depósitos em cinco contas ligadas ao líder do governo de Bolsonaro. O total dos valores ultrapassa os R$ 42 mil.
Os pedidos do parlamentar estão em mensagens obtidas pela Polícia Federal e divulgadas pelo jornal O Globo desta quinta-feira 28. A operação foi deflagrada para investigar um suposto esquema de lavagem de dinheiro e fraudes em licitações no Tocantins. O líder do governo nega irregularidades e diz que as mensagens se tratam de "um pedido de empréstimo".
Além disso, a PF encontrou também comprovantes de depósitos a pessoas indicadas por Gomes. Com as provas, a polícia encaminhou um relatório sigiloso para a 4ª Vara Federal do Tocantins no último dia 11 de julho, solicitando o envio do caso para o Supremo Tribunal Federal (STF).
O relatório diz ainda que Alves teria pago, inclusive, contas do senador. Na véspera de Gomes assumir seu mandato no Congresso, ele pediu que o empresário custeasse o buffet da sua festa, lhe encaminhando a conta de uma mulher. Alves fez o pagamento: “Estamos juntos, amigo”, escreveu o empresário.
Outro diálogo aponta que, ainda durante a campanha em 2018, Gomes também pediu pagamentos para bancar despesas com veículos e alimentação. “Tenho que passar R$ 70 mil para uma locadora que pode dar nota que cuida de todos os veículos que estão na campanha", pediu o senador dois meses antes das eleições. Alves apenas questionou se o pagamento precisaria ser feito naquele dia.
Em seguida, o empresário recebe a solicitação de mais dinheiro para alimentação naquela semana. “Eu preciso de 30 para comer até domingo”, escreveu o líder de Bolsonaro. “Uai, tá comendo muiiiito amigo rs”, ironizou o empresário.
“Há elementos para se acreditar que parte dos valores movimentados pelo grupo possa ter ido para o referido senador, por meio de Jorge Rodrigues Alves, como forma de manutenção de uma boa relação, assim como para o financiamento de campanhas política", concluiu a PF.
Após todos os pagamentos, em 2019, o empresário pediu que Gomes "intercedesse por ele" no Inmetro, ao que o senador concordou. “Preciso muiiiiito de sua ajuda”, escreveu o empresário. “É só falar aonde”,
respondeu o parlamentar. “Portaria 20 do Inmetro. Precisa ser URGENTEMENTE suspensa ou
adiada”, respondeu Alves. “Vou pedir assim que sair da presidência […]. Falo direto com o Carlos”, disse Gomes, referindo-se a Carlos da Costa, então secretário de Produtividade, Emprego e Competitividade do
Ministério da Economia. “Importantíssimo! Amigo, cuida de mim!”, completa Alves.
Dias depois, o senador, que ainda era vice-líder do governo na ocasião, chegou a dizer que poderia trabalhar pela demissão da então presidente do Inmetro, Angela Flôres Furtado, caso o órgão não atendesse ao pedido dele. “Vou ler aqui e montar uma estratégia. Em último caso, a gente questiona via comissão de Infraestrutura. Se houver motivação de espírito público a gente até derruba essa mulher".
Em mensagens trocadas no dia 26 de junho daquele ano, Gomes encaminhou a Alves o "comprovante" da sua ação: um e-mail em que a presidente do Inmetro informava ao seu gabinete que a vigência da portaria seria adiada em três meses. Uma reunião entre o senador e a Angela Furtado está publicamente registrada no dia seguinte. As novas regras foram, de fato, postergadas e só passaram a valer em novembro de 2019.
Ao jornal O Globo, Gomes admitiu ser amigo do empresário "há 25 anos", mas negou ter praticado crimes ou irregularidades. Em nota, o parlamentar afirmou: “Jamais houve qualquer pagamento ou repasse ao senador Eduardo Gomes nos casos questionados".
"As mensagens trocadas são autoexplicativas: tratam-se de pedidos de empréstimos a um amigo, mas que não se efetivaram”, alega. O senador disse ainda que não se licenciou por causa das investigações, mas sim "para cuidar da base" no estado, e garantiu que retornará ao Senado logo após o término da licença.
O POVO
0 Comentários