"Alegria de olhar para trás e ver uma ação linda do povo, a ação do Dragão do Mar, o Chico da Matilde, que disse: "a partir de agora, eu não vou mais transportar escravos para o Rio de Janeiro". Esse movimento popular que levou o Ceará a ser a primeira província a criar, em Redenção, a lei que libertava os escravos. A Abolição passa pelo Estado do Ceará, passa por um povo guerreiro que nos ensinou [no passado] o que nós estamos criando e construindo hoje", celebra.
A comenda, instituída em 1963, reconhece o trabalho relevante de brasileiros para o Estado do Ceará ou para o Brasil. A solenidade de entrega será realizada no próximo 25 de março, dia em que os cearenses lembram a Data Magna do Ceará. O Estado foi pioneiro ao garantir em quatro anos antes do restante do Brasil, em 25 de março de 1884, a liberdade dos negros que aqui foram escravizados.
Socorro França, que soma quase 60 anos de atuação no serviço público, dos quais 48 anos foram dedicados ao Ministério Público do Ceará (MPCE), se emociona ao relembrar todas as lutas pessoais e profissionais em busca de um País mais livre. Segundo ela, sempre defendendo o respeito, sem discriminação por motivo de classe social, raça, cor, etnia, religião, orientação sexual ou identidade de gênero.
"Posso dizer que, depois dos nascimentos dos meus filhos, [a Medalha] é a maior alegria que eu possa ter. Ela está aqui guardada no meu coração e, obviamente, minha família guardará em seu coração também. É uma homenagem muito importante para minha vida porque sempre lutei por esse sentimento libertário, mas eu sempre fui uma servidora pública. Então eu quero dividir essa homenagem com todos os servidores públicos do Estado do Ceará. É a nossa homenagem", dedica.
Da Ilha Rebelde à Terra da Luz
Ao enfatizar o trabalho feito no coletivo, a ex-procuradora-geral de Justiça defende a importância de não caminhar sozinha. Desde os primeiros passos como ativista – ainda na adolescência, em solo maranhense –, ela compreendeu a importância de aliar seu espírito inquieto aos propósitos de outras pessoas.
Foi assim que recebeu o convite para ingressar, aos 12 anos de idade, na Juventude Estudantil Católica (JEC) como pré-jecista, no momento em que a ação social da Igreja Católica se tornava muito forte no Brasil. Posteriormente, foi eleita, aos 15 anos, presidente da JEC. Um período marcado pela militância ao lado dos estudantes secundaristas em São Luís, também conhecida como Ilha Rebelde do Maranhão.
"Eu tinha uma militância muito forte nas escolas em São Luís, na busca sempre do reconhecimento dos direitos, como a carteira profissional. Esclarecendo os estudantes, mostrando para eles os direitos que nós tínhamos, e os que deveríamos alcançar. A Igreja Católica me deu substrato para lutar contra a intolerância de todas as formas; de mostrar que todos nós somos iguais não só perante a lei mas perante a Deus", rememora Socorro, que sempre teve na fé e na educação caminhos para a liberdade desejada. |
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