Mais de 800 pessoas estão na fila de espera por transplante de rim no Ceará

FORTALEZA, CE, BRASIL, 21-08-2019: Fachada do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), uma das unidades que realizam transplante de rim no Ceará.
FORTALEZA, CE, BRASIL, 21-08-2019: Fachada do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), uma das unidades que realizam transplante de rim no Ceará. (Foto: Mauri Melo)
 No Ceará, 819 estão na fila de espera à espera de um transplante de rim. Até 26 de fevereiro deste ano, 55 transplantes foram realizados e, em 2019, 292 pessoas receberam um novo órgão. Os números, fornecidos pela Central de Transplantes do Ceará, mostra o aumento da doença renal crônica, que passou a ser considerada epidemia global pela Organização Mundial da Saúde (OMS).  
Conforme a Secretaria da Saúde do Ceará, 4.963 pacientes fazem hemodiálise no Estado.

 O tratamento consiste na remoção de líquido e de substâncias tóxicas do sangue ( funcionando como se fosse um rim artificial). De acordo com o presidente da Associação dos Pacientes Renais do Ceará, Sebastião Sobreira, apenas 436 pacientes são atendidos por planos de saúde, o restante necessita do Sistema Único de Saúde (SUS).

"Não só aqui no Ceará tem crescido o número (de pacientes renais), como no mundo inteiro. Cresce em torno de 10% a 15% ao ano, mundialmente. Aqui em Fortaleza, no ano passado, entraram 616 pacientes novatos", explica Sebastião.

Hipertensão e diabetes

De acordo com Sobreira, que faz hemodiálise há 24 anos, hipertensão e diabetes estão entre os principais motivos para o aumento das doenças renais. "O diabetes leva a pessoa a perder o rim com algum tempo, se a ela não cuida para manter alimentação saudável. Mesmo caso da hipertensão. Hoje em dia as pessoas comem muito sal", completa.

O trabalho que a Associação dos Pacientes Renais do Estado realiza é o de visitar todas as 28 clínicas no Ceará, orientando e ajudando os pacientes. "Orientar como devem se comportar durante a sessão, dicas de uma alimentação mais saudável. Também conversamos com assistentes sociais", conta Sobreira. Segundo ele, o mais urgente é informar aos pacientes a importância de realizar o transplante.

É o caso de Nielsen Araújo, transplantado há quase um ano. Hoje, ele conta que valeu a pena ter passado pela cirurgia que teve duração de oito horas. "Agora consigo fazer coisas que não fazia antes, como viajar. De vez em quando visito meus amigos da clínica para incentivar eles a fazer o transplante", conta. Antes de conseguir receber o novo rim, Nielsen foi chamado pela Central de Transplantes 108 vezes, mas em nenhuma houve compatibilidade.

Nielsen lembra que, da última vez que foi chamado, recebeu a ligação do hospital e saiu de casa apressado com medo de perder a chance. Quando acordou da cirurgia, a primeira coisa que fez foi colocar a mão na barriga e sentir o tamanho da cicatriz. "Quando fica uma cicatriz pequena é porque tem mais chance do transplante ter dado certo", conta. Era o caso da sua, de 35 pontos.
Hoje ele participa da associação, trabalhando na área administrativa. É uma atividade sem fins lucrativos, mas onde ele vê uma chance de ajudar outros pacientes. O homem de 40 anos continua se cuidando, com alimentação e medicamentos regrados. "Já posso comer feijão preto, viajar. Minha pele e cor melhoraram", comemora.

Segundo Sebastião Sobreira, algumas clínicas cearenses foram equipadas para receber esses pacientes. Um sessão de hemodiálise custa mais de R$ 100,00.

Tratamento pelo SUS

Poucos hospitais no Estado realizam o tratamento de forma gratuita (parte das hemodiálises são feitas em clínicas)- o que é um problema, para Agnel Conde Neto, presidente da Associação Cearense dos Renais e Transplantados. "Muita gente não pode pagar. Também costuma faltar medicamentos para transplantados. É preciso melhorar.", acrescenta.

Agnel já chegou a entrar com uma ação criminal contra o município de Fortaleza devido à falta de medicamentos e já havia denunciado o problema:

Para ele, é essencial rever o preço da hemodiálise.

Sobreira contou ao O POVO que uma nova clínica já está pronta na avenida Lineu Machado, com capacidade para mais de 200 pacientes. Outra está em construção no município de Tianguá, a 333,5 quilômetros de Fortaleza. Uma outra será feita Horizonte, Região Metropolitana de Fortaleza.

Transplantes no Ceará

Segundo a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), em 2019 foram realizados 1.617 transplantes de órgãos e tecidos, sendo 292 transplantes de rim, 04 de rim/ pâncreas, 25 de coração, 229 de fígado, 01 pâncreas, 04 de pulmão, 132 de medula óssea (102 autólogos e 30 alogênicos), 899 de córnea e 31 de esclera. Ao longo de 20 anos de realização de transplantes de órgãos, o Ceará alcançou o segundo melhor resultado.
Em 2020, foram realizados 204 transplantes até 26 de fevereiro, sendo 55 transplantes de rim. A lista de espera para transplante de rim é de 819 pacientes.
Hospitais que realizam transplantes de rim no Estado:

Hospital Universitário Walter Cantídio
Hospital Geral de Fortaleza
Hospital São Carlos
Hospital Monte Klinikum
Hospital São Camilo Cura Dar’s
Hospital Antônio Prudente
Fundação Leandro Bezerra de Menezes (Crato)

Segundo a Fundação Cearense do Rim, o órgão é responsável por:

> Limpar todas as impurezas e as toxinas de nosso corpo;
> Funcionar como regulador da água e manter o equilíbrio das substâncias minerais do corpo (sódio, potássio e fósforo);
> Liberar hormônios para manter a pressão arterial e regular a produção de células vermelhas no sangue;
> Ativar a vitamina D, que mantém a estrutura dos ossos.
A DOENÇA RENAL CRÔNICA PODE CAUSAR:

> Aumento da pressão arterial;
> Anemia e danos nos nervos;
> Doenças cardiovasculares (infarto, derrame ou má circulação nas pernas);
> Enfraquecimento dos ossos;
> Perda progressiva e irreversível e até a morte.
DICAS IMPORTANTES PARA AJUDAR A DESCOBRIR A DOENÇA RENAL CRÔNICA:

Os principais sintomas são: fadiga, fraqueza, inchaço no rosto nas pernas e abdome, urina com sangue, espuma ou escura, sede intensa, dificuldade para urinar, aumento no volume da urina principalmente à noite.

PARA PREVENÇÃO:

> Conheça todo o histórico de doenças da sua família;
> Realize avaliação médica anual principalmente após os quarenta anos;
> Siga uma dieta balanceada e controle seu peso;
> Exercite-se regularmente;
> Não fume;
> Se fizer uso de bebidas alcoólicas seja moderado;
> Monitore seus níveis de colesterol;
> Evite o uso de medicações sem orientação médica.


o Povo

A Organização Mundial da Saúde conta que existem formas simples para reduzir o risco de desenvolver doenças renais, conhecidas como as 8 Regras de Ouro:

> Mantenha-se em forma e ativo: o cuidado com a forma física ajuda a reduzir a pressão sanguínea e reduz o risco de DRC;
> Monitore sua pressão sanguínea: muitas pessoas estão a par de que pressão sanguínea elevada pode levar a um Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou um ataque cardíaco. Poucos sabem, entretanto, que esta é a causa mais comum de dano renal;

> Opte por uma alimentação saudável, reduza o consumo de sal e mantenha seu peso controlado: estas medidas podem prevenir diabetes, doenças cardíacas e outras afecções associadas com a DRC. A ingestão de sódio deve ser reduzida para 5-6 g de sal por dia, evitando alimentos industrializados e dando preferencia a ingredientes frescos;

> Beba bastante água: apesar de estudos clínicos não terem chegado a um consenso sobre a quantidade ideal de água a ser consumida, recomenda-se beber 1,5 a 2l de água diariamente para eliminar sódio, ureia e toxinas do corpo, resultando em menor risco significativo de desenvolver DRC e de redução da função renal;

> Não fume: o hábito de fumar diminui o fluxo de sangue para os rins, e quando isso ocorre, a função renal é prejudicada. Além disso, o hábito de fumar aumenta o risco de câncer renal em 50%;

> Não consuma medicamentos sem prescrição médica: drogas como anti-inflamatórios e analgésicos podem comprometer a função renal se consumidos regularmente;

> Cheque sua função renal regularmente: se você possui um ou mais fatores de alto risco, tais como diabetes, hipertensão, obesidade, possui familiares com histórico de doença renal, ou se for de origem africana, asiática ou aborígene.

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