Com 82 assassinatos, Carnaval já é o mais violento em sete anos

Pelo menos 170 pessoas foram assassinadas no Ceará desde o início da última quarta-feira, 19, até às 23h59 da segunda-feira, 24. O Carnaval deste ano já é o mais violento desde 2014, segundo levantamento feito pelo O POVO a partir de dados da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). Um total de 82 homicídios foi registrado no Estado entre sábado e segunda-feira passada. Em 2019o, foram 33 assassinatos durante todo o Carnaval. Aumento dos Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) ocorre em um contexto de paralisação de parte da Polícia Militar, amotinada em quartéis e batalhões desde a terça-feira, 18.

Dentre as mortes registradas, está a de Ângela Christiany Nobre Palácio, uma jovem de 24 anos, vítima de bala perdida na última terça-feira, 25, enquanto estava em um posto de combustível, no bairro Cristo Redentor, em Fortaleza. De acordo com a SSPDS, homens encapuzados chegaram ao local atirando. Ângela era filha de uma brincante do bloco Maracatu Solar, que ontem prestou uma homenagem a ela no polo carnavalesco do bairro Benfica. O artista Pingo de Fortaleza pediu um minuto de silêncio e, durante apresentação, o bloco deixou uma mensagem de paz e um protesto contra a violência. "Mais paz, mais justiça social, mais arte e mais educação."

Para o pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ricardo Moura, a ausência de policiamento gera condições propícias para o aumento de crimes de pistolagem, vingança e acerto de contas. "Nós temos elementos que complicam a elucidação de casos, além de haver uma série de ocorrências ao mesmo tempo, a probabilidade de impunidade aos que cometem crimes é muito maior", pontua.

Moura lamenta o aumento, porque o Estado vinha registrando queda nos CVLIs e explica que o reforço das tropas federais é pontual, mas não solucionará o problema. "Nenhuma força federal tem o grau de conhecimento de território e das dinâmicas criminais que a polícia local tem. As tropas federais chegam mais como uma forma de passar sensação de segurança".
 
Comissão tenta solução para por fim à paralisação
O presidente da Assembleia Legislativa, José Sarto (PDT), anunciou ontem a criação de uma comissão formada por representantes do Executivo, Legislativo e Judiciário a fim de "buscar uma solução para pôr fim à paralisação de parte dos policiais militares do Estado".
O grupo será integrado também por membros do Ministério Público e Exército. Todos os integrantes do colegiado devem ser indicados ainda nesta semana. 

O POVO apurou que o governador Camilo Santana (PT) esteve reunido ontem com chefes dos poderes, generais, procurador-geral de Justiça e secretários, além do prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT). O encontro foi no Palácio da Abolição.

Assinada conjuntamente por Governo, AL e Judiciário, a nota é resultado dessa conversa. A avaliação é de que há necessidade de abrir canal de diálogo com os policiais, mas sem recuar de punições já determinadas pelo comando da PM. Até o início da semana, 168 militares haviam sido alvo de processo disciplinar.A intenção da comissão tampouco é negociar os termos da proposta de reajuste já apresentada pelo Governo, segundo fontes que participaram da reunião no Abolição. Pela tabela enviada à AL, discutida e acordada com dirigentes de associações de militares e parlamentares ligados ao segmento, um soldado passará a ganhar R$ 4,5 mil ao final de 2022 - hoje o soldo da patente é de R$ 3,2 mil. (Henrique Araújo) 

43 policiais já foram presos por participação em motim
Iniciada há nove dias, a paralisação da Polícia Militar (PM) já culminou na prisão de 43 policiais em todo o Estado, segundo balanço divulgado ontem, 25, pela SSPDS-CE. Conforme a pasta, 38 agentes se apresentaram espontaneamente às autoridades, enquanto outros cinco foram presos, de fato, por não terem se apresentado ao serviço.

Ainda de acordo com a SSPDS, outros cinco policiais se apresentaram e justificaram suas ausências, sendo liberados em seguida. Na última terça-feira, 18, data de início oficial da paralisação, três PMs já haviam sido autuados pelo crime de motim, após serem flagrados secando os pneus de uma viatura. Na quinta-feira, 20, um quarto policial foi autuado em flagrante pelo crime de incêndio.Ao todo, 61 PMs tiveram seus nomes publicados no Boletim do Comando Geral pelo crime de deserção especial, após deixarem de se apresentar na força em que servem. A pena de detenção é de até três meses.
Conforme publicado no Diário Oficial do Estado (DOE), já são 230 PMs do Ceará afastados de cargo por suspeita de envolvimento em motim. Os investigados deverão entregar identificações funcionais, distintivos, armas, algemas e outros elementos que os caracterizem nas suas unidades.

O POVO 

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